segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A Escolarização perdida


Não é fácil repensar a escola. Ela padece de inúmeras forças, cada uma delas com seus próprios propósitos: individuas, interesseiros, mercadológicos, políticos, partidários, etc. Muitos deles, infelizmente, transformam-se indiscriminadamente em valores e critérios de verdade. Qualquer pessoa, pai, educador, aluno, que mantém alguma proximidade com a escola pública percebe que há muitos problemas relacionados à vida escolar: salários baixos dos professores, excessos de alunos em sala de aula, falta de equipamentos, laboratórios, etc. Tudo isso, não é levado em conta no livro Em defesa da escola. Uma questão pública de Jan Masschelein e Maarten Simons. Esses problemas, apesar de serem sérios e urgentes, escondem outro, talvez, tão relevante quanto: a escola há muito se descolarizou. Sim, é esta a tese central dos autores que, de certa forma, mostram-se porta-voz de algo pressentido por muitos de nós.
          A palavra escola, dizem os autores, possui sua raiz na palavra grega skholé que significa tempo livre. Tempo livre “para o estudo e a prática oferecida às pessoas que não tinham nenhum direito a ele de acordo com a ordem arcaica vigente na época”. Tempo livre não produtivo, não relacionado com as necessidades do mundo das demandas sócias e do trabalho. Isso pode parecer muito estranho, pois estamos habituadas a acreditar que a escola é um momento de preparação para o mundo social ou do trabalho. Para os autores, a escola se faz em um espaço liberdade, um lugar onde há um distanciamento das demandas sociais ou mercadológicas. É somente neste espaço de liberdade que o conhecimento pode ser apresentado de forma livre e autônoma. A escola “descolarizada” nada mais é do que a escola atual determinada aos interesses do capital, da formação tecnicista e mercadológica, que faz com que o espaço escolar deixe de ser um espaço de tempo livre, instituído com objetivo de apresentar para as novas gerações a beleza do conhecimento pelo próprio conhecimento.  O que mais nos entristece é ver pais, professores, alunos e demais personagens ligados à escola afirmando um discurso a favor da escola descolarizada. A escola escolarizada por estar livre das demandas exteriores mostra-se como um espaço verdadeiramente democrático genuinamente autônomo. É somente nesse espaço de liberdade, de comunidade, em que as diferenças sociais, religiosas, econômicas são momentaneamente deixadas de lado, que a apresentação do conhecimento com amorosidade, a partir das diferentes matérias, pode surgir.

É necessário lutarmos para que a escola não perca o seu sentido original e fundante. Estamos cansados de ver a escola apenas como um meio para um fim. A escola é um fim em si mesma. Um espaço de amor ao conhecimento, que, por não estar determinado por nenhuma força exterior, revela a beleza da experimentação e do desvelamento do conhecimento. Em defesa da escola é um livro de leitura urgente, necessária para todos aqueles que lutam para que a escola não se curve aos interesses dominante do poder.

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