Não
é fácil repensar a escola. Ela padece de inúmeras forças, cada uma delas com
seus próprios propósitos: individuas, interesseiros, mercadológicos, políticos,
partidários, etc. Muitos deles, infelizmente, transformam-se
indiscriminadamente em valores e critérios de verdade. Qualquer pessoa, pai,
educador, aluno, que mantém alguma proximidade com a escola pública percebe que
há muitos problemas relacionados à vida escolar: salários baixos dos
professores, excessos de alunos em sala de aula, falta de equipamentos,
laboratórios, etc. Tudo isso, não é levado em conta no livro Em defesa da escola. Uma questão pública de Jan Masschelein e
Maarten Simons. Esses problemas, apesar de serem sérios e urgentes, escondem
outro, talvez, tão relevante quanto: a escola há muito se descolarizou. Sim, é
esta a tese central dos autores que, de certa forma, mostram-se porta-voz de
algo pressentido por muitos de nós.
A palavra escola, dizem os autores, possui
sua raiz na palavra grega skholé que
significa tempo livre. Tempo livre “para o estudo e a prática oferecida às
pessoas que não tinham nenhum direito a ele de acordo com a ordem arcaica
vigente na época”. Tempo livre não produtivo, não relacionado com as
necessidades do mundo das demandas sócias e do trabalho. Isso pode parecer
muito estranho, pois estamos habituadas a acreditar que a escola é um momento
de preparação para o mundo social ou do trabalho. Para os autores, a escola se
faz em um espaço liberdade, um lugar onde há um distanciamento das demandas sociais
ou mercadológicas. É somente neste espaço de liberdade que o conhecimento pode
ser apresentado de forma livre e autônoma. A escola “descolarizada” nada mais é
do que a escola atual determinada aos interesses do capital, da formação
tecnicista e mercadológica, que faz com que o espaço escolar deixe de ser um
espaço de tempo livre, instituído com objetivo de apresentar para as novas
gerações a beleza do conhecimento pelo próprio conhecimento. O que mais nos entristece é ver pais,
professores, alunos e demais personagens ligados à escola afirmando um discurso
a favor da escola descolarizada. A escola escolarizada por estar livre das
demandas exteriores mostra-se como um espaço verdadeiramente democrático
genuinamente autônomo. É somente nesse espaço de liberdade, de comunidade, em
que as diferenças sociais, religiosas, econômicas são momentaneamente deixadas
de lado, que a apresentação do conhecimento com amorosidade, a partir das diferentes
matérias, pode surgir.
É
necessário lutarmos para que a escola não perca o seu sentido original e
fundante. Estamos cansados de ver a escola apenas como um meio para um fim. A
escola é um fim em si mesma. Um espaço de amor ao conhecimento, que, por não
estar determinado por nenhuma força exterior, revela a beleza da experimentação
e do desvelamento do conhecimento. Em
defesa da escola é um livro de leitura urgente, necessária para todos
aqueles que lutam para que a escola não se curve aos interesses dominante do
poder.
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